quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Ladrão na cruz

O último cravo penetrou minha carne, perfurando minha alma...
Jorrando dos meus pulsos, mãos, escorrendo pelos pés e se espalhando como lama, entre as pedras e na terra.
Meu sangue fugia de medo, levando com ele os erros que chamei de vida...
Sentia minha mente sufocada, se entorpecendo de dor...
Meu coração bombeava enfraquecido, não me deixava esquecer o terror da noite eterna que se aproximava... a morte seria meu alívio.
Olhei à frente, abaixo, atraído pelos gritos, gargalhadas, soluços e vaias...
Pequenas pessoas. Homens e mulheres misturados...
Olhos vermelhos, olhos irados, feições de medo, sorrisos calados...
Guiei minha visão um pouco à direita e uma dezena de gotas, como rubi, acariciavam a terra como se quisessem acalmá-la...
Um fio escarlate brotava da cruz ao meu lado, surgindo daqueles pés arranhados e feridos.
Cortes profundos cresciam até os joelhos...
Coxas, cintura, peito...
O abdômen contraído parecia querer erguer o corpo exausto;
Das mãos um vermelho brilhante mergulhava apaixonadamente para marcar aquela terra sofrida...
Busquei, num instante, o rosto daquele homem e vi os cortes e arranhões...
Vi uma coroa de espinhos...
Meu coração disparou quando o encontrei a me contemplar,
Como uma explosão que iria algo poderoso libertar...
Eu senti o amor me olhar... a dor se foi
A luz inundou-me pelas feridas em minha carne
Como o sol que entra no quarto pelas frestas da janela, aquecendo e dissipando o frio,
a angústia e a solidão.
Num suspiro confessei:
-Tu és o Cristo, Senhor!
E antes que eu pudesse respirar, a voz, como um delicado trovão, tocou meu espírito.

Fechei os olhos sentindo o acariciar do vento...
Houve silêncio...
A terra gemeu...
O sol escureceu
Abri os olhos e o verde brilhante estendia-se, num sobe e desce,
até tocar o infinito azul celeste!
A voz tornara-se como o som de muitas águas,
E, caminhando ao meu lado,
O bom pastor me guiava!

Sérgio Oliveira
SRS-27-04-2011

Um comentário: